Heloisa Taisses
- Olá, de onde teclas? Como estás?
Assim começam as conversas. Pessoas solitárias ou cansadas da vidinha monótona e pacata, do casamento em ruínas ou simplesmente só para passar o tempo sentam-se na frente de seus computadores e ali ficam horas, muitas vezes viram a noite e nem veem o tempo passar. Há pessoas à procura de alguém para completar suas vidas, pessoas que querem só conversar, mas existem os lobos em peles de cordeiros que se aproveitam da carência dos outros.
Na verdade você não sabe com quem está teclando, a pessoa pode ser louca, um rico se passando por pobre, um pobre se passando por rico, alguém casado que mente não ter ninguém. Na realidade sabemos só o que eles dizem, ou melhor, escrevem. Porém, muitas vezes a conversa é tão boa que passamos nosso MSN, nos tornamos amigos, damos o número do nosso celular. Aí o perigo começa de fato, nos acostumamos a teclar diariamente com um desconhecido, que ingenuamente pensamos que conhecemos, falamos sobre nossa vida, nossos sentimentos.
Às vezes nos apaixonamos, mesmo sem nunca ter visto a pessoa que está do outro lado da tela, nos apaixonamos por suas palavras doces, suaves, seus pensamentos. E aí marcamos o primeiro encontro. Nossa expectativa é enorme, conversamos pessoalmente, olho no olho. Em alguns casos ficamos horas esperando e ninguém aparece, outras vezes a pessoa que aparece não tem nada a ver com a pessoa que conhecemos pela conversa virtual, mas na maioria das vezes é tal como imaginamos e, realizados, voltamos para casa achando ter encontrado nossa cara metade. Doce ilusão.
Depois de certo tempo descobrimos que o/a príncipe/princesa encantado/a, na realidade, não passava de um sapo. Era casado, drogado, bêbado ou pior ainda, um ladrão. E quando nos damos conta já caímos como patinhos. Em certos casos perdemos muito dinheiro, porém o pior é perder a dignidade e ser jogado na lama, ser abandonado, ver nosso sonho acabado. De muitas destas relações saímos totalmente destruídos.
O mundo virtual nos afasta da realidade, das pessoas de verdade, através da Internet podemos criar o personagem que quisermos, criar um mundo de sonhos e ilusões, enfim um mundo mágico perfeito. Mas, que pessoas estão do outro lado da tela? Pessoas que tem medo da vida real, medo de se mostrar como realmente são, preferem se esconder atrás de nomes falsos, personagens imaginários. De certo modo nos tornamos seres deficientes de alguma forma, e essa deficiência aparece no nosso medo de viver.
Ei, você que está aí atrás dessa tela, não se esconda, não tenha medo. A vida real é tão bela, podemos ser felizes sem ser em contos de fadas. Venha viver no mundo real, ame-se que com certeza alguém real vai amar você.
Heloisa Taisses é professora da rede municipal de ensino de São Leopoldo.
(retirado de VS Opinião, 20.6.2011)